Do coração da cidade

E por eventual ironia, avistei essa paisagem. Apesar de longe não a esqueço, e tenho saudades d’ela. Ah! aquelas árvores! quantos amores… quantas mãos se deram por aqueles caminhos copados… Um dia, na sombra das gameleiras, caminhávamos sem pressa para o leste, por um estreito caminho atapetado de folhas secas, rodeados pelas mais diversas espécies de plantas e animais; deslizávamos através de muitas árvores, lindas, nos mais diversos tons de verde… Ouvíamos os cantos de pássaros sobre as folhagens, que aos nossos passos – cujo som não era para eles aprazível – calavam-se e escondiam-se na ramagem… Ao meio dia na luz fúlgida do sol, descíamos para o coreto onde a sombra era mais densa e o vento mais fresco. O céu se dividia entre a claridade afogueada e o imenso azul, que se recobria com nuvens por tôdos os lados… Deliciávamo-nos o dia inteiro na sombra, as águas da velha fonte do Tambiá a nos refrescar… Quanto tempo se passou desde então…

Ali vivemos um tempo que não tinha pressa de ser. Não tinha propósito. Tudo era sinceridade, apenas, inexorável. Foram dias, horas, tôdos os segundos cheios de nós… Tôda a vida era, apenas, viver. Não sabíamos, que nossa carne era tôda carne e que não éramos realidade. Não mais que esboços, interminados; não havia ninguém, havia cada um. É porque éramos apenas carne, e carne, somente, não é alguém.

E sem sangue morreu, a carne findou. Assim morreu a nossa vida. Atentos para ela não percebemos quem fomos. Que um era a real ilusão do outro, e que cada um, em seu interior, o mero reflexo do seu próprio ser…

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